Analfabetismo Digital: Três competências necessárias para sobreviver melhor na era digital.

Rodrigo Palhano
5 min readNov 6, 2022

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Analfabetismo digital é a incapacidade do cidadão inserido em uma sociedade digital de acessar, elaborar, interpretar, construir informação e interagir nesses ambientes. Além disso, diz respeito à ignorância sobre os processos pelos quais as tecnologias enviesam, afetam seus processos cognitivos, a sua própria percepção da realidade e por consequência seu convívio em sociedade.

Os três desafios

A era digital nos trouxe uma série de novidades em termos de tecnologias de produção e acesso à informação. Tais tecnologias nos permitiram acessar e produzir um número sem precedente de informações todos os dias. Para se ter uma ideia, atualmente produzimos em uma semana mais informação do que toda a humanidade produziu em toda sua história até aqui. Sem dúvida que isso nos coloca em uma situação privilegiada em termos de acesso a tais conteúdos, mas também, traz o primeiro desafio: pensar em como separar o trigo do joio. A abundância de informação coloca diante de nós um ‘inferno’ de opções, e temos agora muito mais dificuldade de escolher, avaliar e utilizar conteúdos que encontramos nas redes todos os dias.

Acessar tais conteúdos de forma consciente e efetiva requer conhecimento prévio também sobre a internet em si, sua organização, bem como sobre os meios/mídia (aplicativos, tv, redes sociais, podcasts etc.) pelos quais alcançamos estas informações. Quando se diz que a internet é uma ambiente multi-meios, a mídia das mídias, não é a toa. Todo tipo de conteúdo em seus mais diversos formatos podem ser encontrados ali, contanto que se saiba como manusear tais tecnologias. Neste ponto, o segundo desafio se apresenta: entender e ensinar as pessoas sobre os meios tecnológicos existentes, quais destes, melhores se aplicam a cada situação e como se aplicam.

Por fim, e talvez o menos evidentemente, temos o terceiro desafio: entender as consequências de se utilizar essas novas tecnologias. É fato que a internet tem um quê de bálsamo para humanidade, trazendo possibilidades inauditas até então. Tanto quanto tem um quê de caixa de pandora, cujas moléstias novas se tornam cada vez mais evidentes em nossa sociedade ansiosa, adicta a aplicativos, intolerante, polarizada e homogeneizada. Quais são as consequências dessa adoção de tecnologias que se deu muito rapidamente, de forma massiva, irrepreensível, irresitível, por toda humanidade? Estamos preparados para lidar com suas consequências?

Para responder a essas questões de modo efetivo, precisamos primeiro estar conscientes delas. Na sequência, mapeá-las. E por fim, realizar ações que permitam mitigar os efeitos danosos.

Os três letramentos

Os três desafios mapeados nos parágrafos anteriores são essenciais para que se possa sobreviver melhor no mundo digital. O primeiro deles, diz respeito a como lidar com a informação e é conhecido no mundo acadêmico como Letramento Informacional. O segundo diz respeito a como lidar com os aparatos tecnológicos, como usá-los de forma a tirar proveito desses novos ambientes informacionais, e responde pelo nome de Letramento Digital. O terceiro desafio se ocupa de entender como estas tecnologias nos afetam sem que estejamos conscientes disso. O mundo digital nos deixa mais impacientes? Por que e como isso acontece? Essa disciplina é conhecida como Letramento Midiático.

Sem tais conhecimentos se faz muito difícil utilizar os meios digitais com efetividade, o que pode gerar exclusão social, dificuldades de ingresso e progresso no mercado de trabalho. Além disso, sem essas competências o usuário desses novos ambientes se torna muito mais passageiro do que piloto da sua vida, ficando a mercê das consequências negativas oriundas de seu uso cotidiano inadequado. O cidadão tem dificuldade de se comunicar, de encontrar conteúdo útil, de identificar conteúdo não confiável, bem como não tem qualquer consciência sobre os efeitos colaterais de sua utilização sobre sua saúde física e psíquica.

Educar para mídia se torna relevante, pois aborda de modo completo os referidos letramentos: saber lidar com a informação ofertada; utilização dos meios/mídias; e os efeitos das tecnologias, capacitando nossa sociedade para uma percepção mais abrangente das mudanças que ocorrem em seu meio, permitindo-a desta forma, sobreviver melhor no digital.

Indo mais a fundo

Letramento Digital / Tecnológico

Refere-se ao conjunto de habilidades técnicas necessárias ao indivíduo para que ele possa acessar e produzir informação em ambientes digitais. Isso inclui conhecimento sobre os mais diversos aparelhos que servem de meios de acesso à internet atualmente tais como: TVs, Computadores, Celulares e estar preparado para um “sem fim” de novidades que devem explodir nesta área depois do advento das tecnologias 5G e internet das coisas (IoT). Diz respeito também ao domínio do uso e entendimento dos propósitos das aplicações na internet. Como viver em uma sociedade digital sem utilizar ferramentas como Google, Uber, WhatsApp? Claramente não é impossível, mas será cada vez mais difícil.

Cidadãos sem esse letramento acabam por ser menos competitivos no mercado de trabalho e tendem a se sentirem, de certa forma, excluídos socialmente. O letramento digital é o que encontramos mais comumente como sendo a definição de “Educação para o Digital”. Apesar de estar claro que educar cidadãos de todas as idades para o uso das tecnologias seja primordial, tal educação não deve limitar-se a isso, como veremos adiante.

Letramento Informacional

Quando falamos o termo fakenews atualmente entendemos a urgência de se capacitar as pessoas (crianças, jovens, adultos e idosos) quanto ao letramento Informacional, mas do que isso se trata exatamente?

Segundo Associação de Faculdades e Bibliotecas Americana, letramento informacional é:

um conjunto de habilidades integradas que envolve o descobrimento reflexivo de informação, o entendimento de como a informação é produzida e valorada, bem como a utilização da informação na construção de novo conhecimento, além da atuação ética que se realiza junto a comunidades de aprendizagem”.

Podemos dizer que uma pessoa é letrada informacionalmente, segundo a Associcação Americana de Bibliotecas (ALA) quando “uma pessoa é capaz de reconhecer quando informações são necessárias e possui a habilidade de encontrá-las, avaliá-las e utilizá-las de forma efetiva”.

Outro ponto que vale destaque foi a proclamação de Alexandria de 2005, que promoveu o letramento informacional ao patamar de direito humano universal no mundo digital.

Quando voltamos ao exemplo da fakenews, podemos dizer que uma pessoa que é capaz de receber uma notícia, entender a mensagem, criticar não só o conteúdo como também os meios pelos quais ela o alcançou, buscar novas fontes de modo a avaliar sua legitimidade para então derivar conclusões precipitadas, seria um bom exemplo de um Letrado Informacional.

Letramento Midiático

A educação para o entendimento dos efeitos das tecnologias, especialmente das mídias de comunciação sobre o ser humano data dos anos 30, tendo seu início nos EUA, Canadá e Inglaterra. Essa preocupação se deu quando do advento das mídias eletrônicas como Telefone, Rádio e posteriormente a TV. O letramento mídiatico busca entender como as tecnologias transformam os indivíduos de maneira inconsciente, e posteriormente mudam a própria sociedade.

Compreender por que estamos mais polarizados, por que estamos mais ansiosos do que jamais estivemos, mais impacientes, mais intolerantes, passa por entender tais efeitos. Grande parte destes motivos podem ter raíz na introdução de novas mídias na civilização. O fato de entender como a tecnologia afeta nossa constituição psicológica, como a forma algorítmica dos mecanismos de buscas na internet, por exemplo, influenciam nossa tomada de decisão, podem nos ajudar a fazer melhores escolhas. Ter entendimento sobre os efeitos invisíveis da mídia é fundamental para que sejamos cidadãos mais livres, independentes e autônomos.

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Rodrigo Palhano

Internet, Communications, Social Media, Tech Enthusiast